sábado, 13 de junho de 2015

Clube Esperia: fundado por italianos


Com uma trajetória de muitas histórias e conquistas, o Clube foi fundado às margens do rio Tietê em 1.899, por sete jovens italianos, praticantes de remo. Esportistas famosos foram revelados em seus ginásios, quadras e piscinas, como o médico Adib Jatene, vice-campeão de remo pelo Clube; Sylvio de Magalhães Padilha, ex-presidente do Comitê Olímpico Brasileiro; o navegador Amyr Klink; e o tenista Fernando Meligeni.

Um rico acervo de fotos, documentos e troféus é mantido pelo Arquivo Histórico, referência para historiadores, estudantes e outros interessados em pesquisar dados da São Paulo antiga e do Rio Tietê. Algumas relíquias são guardadas, como a primeira taça da Corrida de São Silvestre, conquistada pelo esperiota Alfredo Gomes, em 1925.

Localização: Av. Santos Dumont, 1313 - Santana - Zona Norte - São Paulo/SP

sábado, 30 de maio de 2015

Imigração ou Emigração?

Segundo o Aurélio encontramos essas definições:


Significado de imigração 

1 Ato ou efeito de imigrar
2 Conjunto de pessoas que se estabelece noutro país ou noutra a região diferente do seu.

Significado de emigração


1 Ato ou efeito de emigrar

2 Conjunto de pessoas que deixa o seu país ou a sua região para se estabelecerem noutro.
3 Saída periódica de certas espécies animais para outra região.


quinta-feira, 28 de maio de 2015

Um pouco sobre a Ideologia dos Imigrantes




No final do século XIX os imigrantes italianos já divulgavam seus ideias libertários e coletivistas para a classe operária que aqui habitavam. Uma das melhores formas de divulgarem sua ideologia eram através de publicações em jornais. 
A seguir apresentaremos um trecho transcrito do jornal L' AVVERINE (1895), onde pode ser analisado o pensamento crítico vivido pelos imigrantes daquele período.

‘’No ultimo numero desta folhasinha, um coilega italiano traton das leis sob o ponto de vista da sua acção malefica na sociedade, e, agora, creio opportuno demonstrar que além de serem as leis uma barreira levantada contra o progresso e a civilidade, as autoridades que as decretam e as dispões, as observam sómente quando são em favor da tyrannia; mas se, por acaso devem ser a favor da justiça as violam descaradamente.’’[1]



[1] L’ AVVENIRE. São Paulo, 18 de agosto de 1895. Série II. Nº. 3. Disponível em Museu da Imigração de São Paulo: Arquivo Digital: <<http://museudaimigracao.org.br/acervodigital/upload/jornais/AV18950818.pdf>> (Acessado em 28/05/2015).

A imigração italiana através da arte

 ''A música La Mèrica retrata os sonhos e a esperança dos emigrantes italianos que embarcaram rumo às Américas, num período conhecido com a grande imigração no final do século XIX. Neste vídeo é apresentado uma coleção de imagens da vida sofrida dos italianos neste período, juntamente com música, letra e tradução de La Mèrica (Merica Merica).''

De acordo a tradição oral,  a autoria da canção La Mèrica foi atribuída ao poeta italiano Angelo Giusti¹ (1848-1929).


Fonte Vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=HPAEJHW3phs. Acesso 28/05/2015

Livro de controle de embarque de emigrantes

Este é um livro de controle de embarque de 1895, que transportavam em média mais de 1.500 pessoas amontoadas e em péssimas condições.


Link do documento completo:



Fonte:
Museu da Imigração: Arquivo Digital

quarta-feira, 27 de maio de 2015

A Grande Emigração

A Imigração Italiana para o Brasil no século XIX, apesar de parecer promissora de inicio, principalmente para os que viviam na miséria na Itália e viram nessa viagem uma forma de ascensão, deixou muito a desejar. De certo modo foi boa, mas não para os camponeses que chegavam aqui aos milhares, mas sim para os grandes fazendeiros da época, que se viam prejudicados pelas novas leis em relação ao trabalho escravo. Os Italianos esperavam fartura, posses de terras e ascensão social, mas foram submetidos a condições sub-humanas já na viagem para o Brasil, não melhorando nem um pouco ao desembarcarem e perceberem que foram vitimas de uma propaganda totalmente enganosa e de um sistema que visava o lucro, mas não para eles.

COLONO ITALIANO NO Núcleo COLONIAL GAVIãO PEIXOTO, 1911 - Acervo Digital do Museu da Imigração.
http://museudaimigracao.org.br/acervodigital/upload/fotografias/MI_ICO_AMP_008_001_029_001.jpg

Entre os séculos XVII e VXIII houve pouca incidência de presença Italiana no Brasil, podendo ser encontrada apenas dentre alguns Bandeirantes (podemos destacar Baccio da Filicaia, Antonio Dias Adorno, Mainardi, Spinosa entre outros), e personalidades de cultura e camada social elevada. Somente no século XIX que podemos encontrar um afluxo de Italianos, ainda que em um pequeno núcleo, no Rio de Janeiro, que vivam principalmente como trabalhadores manuais, de pequeno comércio e que exerciam profissões liberais.
O inicio da Imigração Italiana para o Brasil teve no principio caráter politico, tanto espontânea como forçada. No primeiro caso, em um acordo entre a Coroa das Duas Sicílias e a Corte Brasileira, eram enviados alguns "facínoras" ao Brasil para serem exilados políticos do Estado do Vaticano. No segundo caso, a emigração espontânea era de refugiados políticos, como exemplo de Garibaldi.

Entre 1887 e 1902 a emigração italiana para o Brasil se fortaleceu. O Brasil tinha uma demanda grande de terras. A província de São Paulo, em 1835, decidiu custear a introdução de imigrantes na região, principalmente depois que o tráfico de escravos da África foi proibido e em 1840 o café passou a substituir o açúcar como mercadoria de exportação e precisava de mão-de-obra para suprir a grande produção, e para conseguir cada vez mais viajantes foi feita uma enorme divulgação e propaganda das colônias de imigrantes no Brasil, mas certamente não condizia em nada com a verdadeira condição que os Italianos encontrariam aqui. 

Carta de Filho para o Pai convidando-o a residir no Brasil  - Acervo Digital do Museu da Imigração

Com isso, foi introduzida uma política de emigração feita pelo governo brasileiro em que eram adiantadas aos colonos as despesas da viagem, alimentação e equipamentos agrícolas durante o primeiro ano de instalação, mas esse adiantamento seria cobrado e deveria ser pago mais tarde aos fazendeiros e com juros! Os Italianos recebiam uma pequena parte de terra para cultivo de café e gêneros de subsistência (arroz, Feijão, Milho, Batata), que poderiam ser vendidos no comércio caso sobrassem.


                    Panfleto que os Agentes de Propaganda utilizavam para promover a emigração na Itália.




" Na América, terras no Brasil para Italianos. Navios em partida todas as semanas do Porto de Gênova. Venham construir seus sonhos com a família. Um País de oportunidade. Clima tropical e abundância, Riquezas minerais. No Brasil vocês poderão ter seu castelo. O Governo dá terras e utensílios a todos."

Lista de chegada de imigrantes no Porto de Santos

No caso do café, metade dos lucros da colheita ia para o fazendeiro. Esse sistema deixavam os Italianos endividados, pois era feito um acordo e um tipo de contrato, que era interpretado pelo fazendeiro do jeito que lhe fosse conveniente. Os Italianos recebiam um salário ao fim da colheita, que no caso poderia ser uma vez por ano e eram muito comuns descontos exorbitantes neste pagamento, que era pouco e demorava a vir, e quando vinha, os fazendeiros encontravam motivos para que fosse extraída uma parte da quantia. Qualquer coisa era motivo para desconto, os mais usados eram falta de respeito, ausência sem justificativa e a recusa de praticar novos trabalhos.
Para impedir que os emigrantes tomassem posse de terras quando chegassem ao Brasil, foi aprovada a Lei das Terras, que impedia o acesso a terra por outro meio que não fosse à compra. Isso só favorecia ainda mais os grandes proprietários de fazendas, já que para sua sobrevivência, o emigrante tinha que se submeter ao trabalho pesado e más condições de vida nas fazendas de café. Um exemplo era a idade em que as crianças começavam a trabalhar nos pés de café, cerca de 6-7 anos. 



Família  Imigrantes Italianos - Acervo Digital do Museu da Imigração


Um dos principais portos de embarque na Itália era o de Gênova (como podemos ver no Panfleto acima). As viagens demoravam cerca de dois meses nos Veleiros, mas com o surgimento da navegação a vapor esse período se reduziu para 21-30 dias. Havia um grande índice de mortalidade durante as viagens, em particular infantil devido às más condições na viagem oferecida pelas companhias Italianas.
A má condição das viagens e das condições de vida em que os emigrantes encontravam no Brasil serviu para que em 1902 fosse proibida pela Itália a emigração subsidiada. Inúmeras denuncias surgiram com por meio da imprensa ou de publicações Italianas mostrando as péssimas condições de vida dos imigrantes que residiam no Brasil. Denuncias como mulheres violentadas, homens chicoteados, doenças, não pagamento de salario e miséria. 


                         Passaporte de mulher Italiana. 1920 - Acervo Digital do Museu da Imigração
http://museudaimigracao.org.br/acervodigital/upload/fotografias/MI_ICO_AMP_018_001_117_001.jpgpassaporte 1920

Para saber mais 

O Museu da Imigração do Estado de São Paulo tem um rico acervo de documentos que ajudam a contar a história dos imigrantes que vieram para o Brasil tentar uma vida melhor, grande parte está digitalizada e acessível para o público em geral. 


Lá existem cerca de 848 cartas de imigrantes Italianos e vários outros documentos como listas de embarque dos navios, fotos e jornais da época.

Referências: Trento, Ângelo. Do Outro Lado do Atlântico: Um século de Imigração Italiana no Brasil.  São Paulo: Nobel: Istituto Italiano di Cultura di San Paolo: Instituto Cultural Ítalo-Brasileiro - 1988.

Documentos retirados do Museu da Imigração de São Paulo.  

Carta relatando a vinda de um imigrante ao Brasil

Esse processo de imigração não foi nada fácil, muitas vezes esse povo era enganado por aqueles agentes de emigração e pagavam suas viagens para os Estados Unidos e desembarcavam no porto de Santos, isso era comum de acontecer, assim como mortes a bordo dos navios, visto que a viagem demorava em média 24 dias e em condições precárias, assim como sua vida no Brasil também acabaria sendo. Esta carta de um desses imigrantes relata como foi sua viagem e o começo de sua vida no Brasil ao seu antigo patrão na Itália:




Aqui temos o texto traduzido por Silvia Scotoni Levy, onde é possível ter uma noção minima referente ao modo como eram tratados esses imigrantes:

“Distinto senhor Dr. Ferdinando Chisini Pieve di Soligo
Depois de um longo silêncio, ora envio ao senhor minhas noticias.
Com grande dor, devo informá-lo da minha terrível sorte. Começarei por dizer-lhe alguma coisa da viagem que foi tão sofrida, que por meu conselho, nem mesmo o meu cachorro, que deixei na Itália, deveria enfrentar tais tribulações. A dita viagem foi extremamente pesada, primeiro Porter enfrentado quatro dias de grandes tempestades, depois, por estarmos numa multidão no navio , e para terminar, tivemos um calor infernal, Finalmente, depois de vinte e seis dias, desembarcamos em Santos. Onde esperávamos dar ao nosso espírito um pouco de alento. Esperávamos ouvir alguma boa noticia, mas quando dirigíamos algumas palavras a algum italiano a resposta não era boa. A cada resposta negativa,crescia o nosso desespero. Imediatamente, fomos embarcados num trem especial que, em 4horas, nos levou à Casa da Imigração, em São Paulo. Lá chegando, nosso desespero ficou ainda maior ao ver uma multidão de pessoas e saber que existia uma grande mortandade de crianças. Quando ao calar da noite, observando toda a família e as minhas pequenas crianças dormindo amontoadas sobre o chão, rodeadas por dez mil pessoas, eu não consigo me dar paz.

De um lado do quarto, chorava uma mulher, do outro, um homem. Observando as crianças e sentindo-me culpado por tê-las feito passar por tantas provações, digo-lhe Sr. Patrão, que não consegui parar de chorar toda a noite e assim passamos nosso primeiro dia de repouso na América.

Finalmente, depois de quatro dias, fomos levados de São Paulo a Santa Tereza, o nosso destino. Lá chegando, vimos que nossa habitação ainda não estava preparada e então tivemos que dormir. 139 pessoas, em uma pequena casa. Vendo os italianos que moravam nessa fazenda havia cinco meses e observando os seus filhos pequenos com pés e pernas completamente tomados por feridas provocadas por mordidas de insetos, o que não lhes permitia nem sequer ficar de pé, digo a verdade ao Senhor que, ao ver aquela imagem me pus a chorar e fugi dos meus filhos. Eu não teria tido coragem d me reaproximar deles, se meu pai não tivesse vindo me buscar e me conduzido de novo junto deles.

Chorando, descrevo ao Senhor que, depois de poucos dias, todos os meus filhos e as mulheres adoeceram e nós, que trouxemos onze filhos, agora ficamos apenas com cinco; os outros, nós perdemos. Deixo ao Senhor para considerar o grau de nosso desespero e lhe digo que, se tivesse tido o poder, não teria parado na América nem mesmo uma hora. Espero que o bom Deus me empreste vida a mais, para que o mais breve possível eu posa conduzir o resto de meus filhos para a Itália. Por meus conselhos, não partirá nenhuma pessoa daí para vir à América, porque eu teria a morte antes de partir.

As coisas seriam muito boas se os sacerdotes fossem doutores e se encontrássemos tudo o que necessitamos, como encontramos na Itália, porque, aqui aquele que trabalha com vontade e goza de boa saúde ganha muito dinheiro. Porém, se adoece quinze dias, gasta todas as economias com os remédios e outras coisas. Uma visita do doutor custa trinta florins.

Por ora termino, mas não sem antes pedir ao Senhor e a todos os seus que rezem por minha família, para que Deus nos conserve a saúde e possamos nos rever em breve na Itália.

Perdoe-me de tal incômodo, mas faça-me o favor d entregar esta carta ao seu destino, na primeira oportunidade. Se for do seu agrado dar-me resposta desejo ter notícias suas.

Agora receba de minha parte e de toda minha família as mais cordiais saudações e, ao mesmo tempo, me faça o favor de saudar toda a sua família.
Adeus”

O seu desventurado servo
Rosolen Bortolo
O meu endereço é América-Brasil
Província de São Paulo - Estação Cordeiro - Santa Tereza




Referência:
Júnior, José Eduardo Heflinger. E os Italianos Chegaram. Unigráfica, 2010. Vol. 4
Franzina,  Emilio. Merica! Merica! Emigrazione e colonizzazione nelle lettere dei contadini veneti e friulani in America latina (1876-1902). Cierre Edizioni, 1994

A Emigração Para o Brasil



A Crise na Itália

A partir de 1848, influenciados por movimentos revolucionários ocorridos na França, muitos ducados e reinados da Península Itálica começam a se unificar, o que acabou gerando alguns conflitos políticos, onde houve um domínio de duas tendências, os republicanos liderados por Giuseppe Mazzini e Giuseppe Garibaldi e os monarquistas liderados pelo rei Vitor Emanuel II, do Piomonte-Sardenha, que tinha como principal articulador o Conde Cavour. Essas insurreições nacionalistas culminaram com a constituição do primeiro parlamento italiano, instituído em 1861, ano em que foi proclamada a Constituição do Reino da Itália. Tempos depois (1870) Veneza, Roma, Lacio e os Estados Pontifícios também foram incorporados.
Em 1870 a Itália já era o 8º (oitavo) maior país em extensão e o 5º (quinto) em população, com cerca de vinte e cinco milhões de habitantes, e era bastante pobre. Essa era a situação, apesar dos esforços empreendidos pelo estado, para fortalecer o comércio e a indústria, iniciar a construção de túneis e incentivar a melhoria nos portos. Em 1878, já havia mais de oito mil quilômetros de vias férreas. A indústria começou a crescer, no entanto, a produção nacional permanecia essencialmente agrícola, baseada numa técnica insuficiente, apresentando um rendimento medíocre. Sua economia era baseada em latifúndios, principalmente, na Sicília , no sul da Itália no Vale dopo. A pobreza crescia deixando clara a desproporção entre a oferta e a procura de trabalho. Desde o inicio da década de 70 até o ano de 1.900 a situação política econômica do país não era nada boa, o que fazia com que o povo italiano começasse a emigrar em busca de melhores condições de vida.

A travessia do Atlântico

Não contentes com a essas condições a qual viviam, o povo italiano começou a emigrar para a América, convencidos de que lá teriam uma vida melhor. A viagem era feita através do sistema de parceria, pelo governo do Brasil, onde disponibilizavam propriedades de terras para os italianos, em troca de trabalho nas lavouras de café existentes nessa propriedade. Foi através de Companhias de Navegação que se deu este êxodo populacional, que foi grandemente influenciado por milhares de agências de emigração e milhares de agentes e subagentes que ganhavam comissões para embarcar e orientar os italianos. Como essas companhias e agentes visavam apenas o lucro, exageravam nas promessas e propaganda do novo mundo, oferecendo qualidade de vida e empregos surreais.
Nos portos de Gênova e Nápoles, o movimento era intenso, mas a registros de italianos que partiam da Europa por Palermo, Marselha, Bourdeaux, Hamburgo, Bremen entre outros. Durante um período de tempo os embarques pela Inglaterra não eram registrados, sendo assim uma porta para a emigração de pessoas que não tinham bons antecedentes.


Imagem do porto de Gênova datado de 1898:

Referências:

Júnior, José Eduardo Heflinger. E os Italianos Chegaram. Unigráfica, 2010. Vol. 4

Museu da Imigração do Estado de São Paulo